terça-feira, 28 de junho de 2016

Língua traiçoeira

Pelo título do artigo poderão pensar que vou falar da língua que usamos para salivar, lamber e falar. Vou falar sim da língua portuguesa que expressamos, com a nossa atrás referida língua integrante do nosso corpo humano.

A língua portuguesa é a minha língua materna que é tão completa, complicada e flexível que se torna tão difícil de aprender.

Completa pela sua adjectivação, pelos seus múltiplos sinónimos e pelas suas formas verbais. Complicada pelas variadas interpretações que uma única frase pode ter. Flexível porque podemos dizer exactamente o mesmo de várias maneiras.

Peguemos na palavra perdão...

Muitas pessoas não sabem bem o significado da palavra perdão. Há quem vá frequentemente à igreja ouvir o padre ensinar a perdoar e que depois peça perdão pensando que esse pedido as desculpa dos seus actos e passa uma borracha nas suas atitudes passadas.

Algumas pessoas também pedem perdão para ganhar umas "vidas" no jogo do pecado para poderem voltar a ofender outras pessoas (ou as mesmas) e de novo pedirem perdão. O perdão é poderoso para a pessoa que perdoa e não para a pessoa que ofendeu.

De entre duas bíblias de religiões diferentes o pecado e o perdão são descritos da mesma maneira nestes livros da história da humanidade. Quem me ensinou o perdão foi a minha mãe através dos exemplos de vida em que a vi ser ofendida e ela continuou sempre de coração aberto para perdoar. Perdoar é um acto de libertação do rancor, da ganância da razão e do potencial de vingança.

Continuemos com o rancor...

Quem já não sentiu o amargo do rancor. É um veneno que nos faz corroer a alma e a inteligência. Tira-nos o sono e faz-nos pensar sem racionalidade repetidamente em algo que não nos leva a nenhuma solução positiva.

Pensamos em alguém que nos fez mal e sobre a maneira com a qual poderíamos ripostar com vingança. O rancor é um sentimento muito mau que até as pessoas com mais educação sentem repentinamente. Graciosamente a educação faz com que consigam dominar tão vil reacção.

A ganância da razão...

Quantas pessoas não param para pensar e analisar se têm razão? Muitas. O orgulho não lhes permite que se rebaixem a um pedido de desculpas. Arranjam todos os argumentos possíveis e imaginários para manter de pé a sua posição. Teimar é o seu desporto favorito. Quem já não encontrou pessoas que encetam conversas propositadamente para depois jogarem o seu jogo preferido: a teimosia.

Culpam os outros, espelham nos outros os seus próprios defeitos, mentem, especulam até se prejudicarem a si próprias sem inteligência e com parvoíce.

E vem de seguida a vingança...

Quantas pessoas não conseguem conter-se em aplicar a vingança pensada na fase do rancor. Infelizmente muitas! A vingança pode ir de simples actos de sacanice até comportamentos extremos que acabam em tentativas de homicídio e assassinatos.

A vingança é o culminar deste processo de má interpretação da língua. Porque pessoas diferentes interpretam palavras de modo diferente porque foram educadas com base em valores diferentes, em ambientes diferentes que as levaram a criar usos diferentes para a mesma palavra.

Quem já não passou pela situação de estarmos a falar e termos a sensação de que não nos estão a entender? E que só entendem o que querem e como querem?

Resumindo...

A língua portuguesa é muito traiçoeira!



Alfredo Simões

Consultor de empresas



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